domingo, 24 de março de 2013
Exposição IRÚNMOLÈ com curadoria de Caetano Dias é um projeto instalativo composto por 48 pinturas em acrílica e guache sobre papel, ocupando três paredes da galeria, propondo uma imersão no universo das HQ's, aqui numa fusão entre as Mitologias dos Super-heróis em quadrinhos e a dos Orixás. Apartir de características comuns os heróis e orixás se amalgamam numa terceira personagem.
Batman X Exú - O Batman é também conhecido como o Calaveiro das Trevas, e Exú é associado ao diabo. No processo de sincretismo entre os santos católicos e orixás, houve uma associação equivocada onde Exú foi sincretizado com o diabo, em verdade Exú é a força do movimento, da criatividade, do início de todas as coisas, é o mensageiro entre os dois mundos o "aiyê" e o "orun", ele é o Orixá que mais se aproxima dos homens, possui a dualidade em si, é bom e é mau de acordo com a necessidade. Aqui Batman recebe as cores de Exú (vermelho e preto) e o tridente no centro do peito. Tamanho 66X96cms, guache sobre papel, 'sem título', ano 2012.
Lanterna Verde X Oxóssi - A cor 'verde' é o grande elo entre estas duas personagens, tanto o Lanterna Verde quanto Oxóssi, tem na cor uma simbologia importante, Oxóssi tem o 'verde' das matas, de onde vem seu poder, e Lanterna Verde tem este nome por fazer parte de uma tropa de seres preparados para combater as trevas. Nesta imagem o Lanterna Verde John Stewart tem a 'cabeça feita' com a pintura do iniciado que vai receber Oxóssi no seu Ori (cabeça), este ritual é de grande importância para proporcionar equilibrio na vida do iniciado. Tamanho 70X100cms, guache sobre papel, 'sem título', ano 2012.
Xangô X Ajax - Tanto Ajax, o caçador de Marte, quanto Xangô, são estrategistas, diferente de Ogum, que parte para batalha assim que o conflito é estabelecido, Xangô e Ajax primeiro analizam a situação, criam um plano de ação e aí então partem para a execução o plano. Ajax carrega um "X" vermelho no peito e Xangô tem o vermelho terra como cor de referência, aqui o novo personagem se apresenta com o machado de duas lâminas que Xangô carrega, o machado da Justiça.Tamanho 70X100cms, acrílica sobre papel, 'sem título', ano 2010.
Robin X Logún Edé - A identidade secreta de Robin se apresenta em dois super-heróis, o próprio Robin e também no Asa Noturna, da mesma forma Logún Edé, se manifesta de duas formas, seis meses no ano é uma entidade das matas (caçador) e nos outros seis meses se apresenta com uma entidade das águas (pescador), outra curiosdade entre os dois é que Logún Edé é conhecido como "O santo jovem que velho respeita" e Robin é conhecido como o Garoto Prodígio. Tamanho 70X100cms, guache sobre papel, 'sem título', ano 2012.
Capitão América X Ogum - Ogum é o senhor das guerras, Capitão América surge no segunda grande guerra como um super-soldado, a cor de Ogum é o azul, podendo ser também o vermelho (na Umbanda no Rio de Janeiro), o Capitão América é predominantemente azul, mas possui o vermelho também no seu uniforme, aqui a estrela no peito do Capitão América é substituida pela bigorna, que é um símbolo de Ogum, e a bandeira americana sofre uma intervenção com a aplicação dos triangulos originalmente da bandeira do estado da Bahia, onde a difusão das religiões de matrizes africanas está muito presente. Tamanho 140X200cms, acrílica sobre papel, 'sem título', ano 2011.
sábado, 23 de março de 2013
Superboy X Oxaguiã - Superboy é a versão jovem do superman, da mesma forma Oxalá tem duas representações, ele jovem (oxaguiã) e ele velho (oxalufã), o jovem Oxalá tem como símbolo, o pilão, pois ele tem o inhame como alimento preferido, que deve ser pilado, este pilão é visto, aqui, no peito do superboy X Oxaguiã, além do branco como cor de suas vestes. Tamanho 70X100cms, guache sobre papel, 'sem título' ano 2012.
Wolverine X Ogum - Wolverine é um herói instintivo ele age para depois pensar, surge o conlito e ele parte para briga, assim como Ogum, que diferente de Xangô, não analiza a situação, simplesmente vai à briga. Ogum também é o senhor dos ferros, Wolverine sofreu uma intervenção cirúrgica a qual lhe foi inserido um esqueleto de um metal super resistente, o Adamantium. Tamanho 70X100cms, guache sobre papel, 'sem título', ano 2012.
Homem de Ferro X Oxumarê - Oxumarê é um orixá da riqueza, o Homem de Ferro é um homem comum, porém milionário que construiu a carapaça que usa para se tornar o super-herói. As cores do arco-íris e as escamas da serpente pertencem a Oxumerê, o Ouroboros na palma da mão da personagem representa o ciclo da vida, a água que evapora e dá origem às nuvens de chuva que formam arco-íris e assim ciclicamente se renovam. Tamanho 70X100cms, acrílica sobre papel, 'sem título', ano 2011.
O não local onde surgem estes Heróis-Orixás, chamado por mim de 'campo de amplidão', a territorialidade se apresenta de uma forma própria, aqui estão dois exemplos, 1° mapa: Local de origem de Batman X Exú se apresenta com uma duplicação do mapa da America do Norte dando forma ao morcego. 2° mapa: Local e origim do Superman X Oxalá, um espelhamento do mapa da áfrica dando forma a um útero gerador.
IRÚNMOLÈ e
o desejo por imortalidade
Identificar a origem das figuras que
compõem as obras de Yuri Ferraz é algo incerto. E como o espectador seguro de
seu repertório visual iconográfico pode se ver vítima da necessidade
imediatista de reconhecer a identidade das figuras a sua frente, é melhor
começar este texto por aquilo que, aparentemente, a sua produção não oferece.
De fato, como representar não é a intenção primeira do artista, vale notar que
identificar as figuras pode ser um exercício complicado. Isso porque o conjunto
de pinturas oscila entre o reconhecível e o imaginado, formando uma entidade a
partir da fusão de heróis e deuses. Cada um sendo um símbolo independente,
evoca o desejo de imortalidade que, em todas as tradições, de todos os tempos,
é reconhecido como o maior anseio do ser humano. O que o artista procura
identificar são problemas decorrentes do fato de associarmos nosso desejo por
imortalidade ao efêmero mundo fenomênico. O que resulta, incontestavelmente, em
um dos maiores dilemas do sujeito enquanto lida com questões relacionadas a
instabilidade e vulnerabilidade do corpo. No contra-fluxo deste dilema, as
personagens míticas e populares, cuja identidade é venerada por carregar em
nível supra-humano força, poder, fama e imortalidade, aparecem em meio a lutas
fratricidas, aplicando em batalhas toda a potência venerada pelos mortais.
Trata-se de grandes criadores, guerreiros e deuses, todos adoráveis em ritos
ancestrais ou contemporâneos, encontrados em templos, nas telas de televisão, em
álbuns de história em quadrinhos ou ainda através da sucessão de iniciados que
mantêm a tradição dos ritos africanos. Estreitando o espaço e a existência de
cada um deles, o artista instaura o que ele define como “campo de amplidão”, um
lugar onde tempo, Natureza e Cultura díspares convivem na intenção de formar
uma única matriz para o desejo de imortalidade do ser humano. Inclusive, tudo
indica que neste campo o tempo é menos presente. A ancestralidade convive com o
contemporâneo, aqui considerado o fato de que a antiguidade é a pedra basilar da
época atual, diferente de uma das intenções do modernismo, que foi a de fazer
tabula rasa do passado.
Corpos híbridos demarcados no papel
com precisão tal que os transforma em seres animados, essas figuras, quando em
exposição, redefinem o espaço ocupado, transformando-o em uma página de
quadrinhos. Em tal disposição, a dificuldade de reconhecimento das figuras não
se dá por qualquer abstração, mas por sua natureza intrínseca. As cores e
atributos de Exú-fêmea conjugadas com a iconografia da Batgirl revelam uma
entidade singular, o que aparece em Superman-Oxalá e Ogum-Wolverine. Neste
sentido, em cada pintura da exposição Irúnmolè,
algo parece se aproximar do que Edgar Wind qualifica como o exercício de
sacrificar deuses e heróis. Para ele, “quanto mais o poeta passa a acreditar
nos heróis e deuses cujas imagens lhe povoam o espírito, mais se aproxima do
sacerdote. Entretanto, ele só sucumbe totalmente ao enlevo quando ou sacrifica
ao deus que é tema de sua poesia ou o compele a se sacrificar.”[1]
Neste sentido, a condição de sacrificar deuses e heróis passa a ser a natureza
primeira dessas pinturas, que tem por fim a extinção do deus e do herói, em
virtude da construção de um sujeito deus-herói, situado em uma condição
desterritorializada e atemporal, não pertencente a uma cultura ou tradição
específicas. Contudo, sacrificar ao deus e ao herói se traduz aqui como a intenção
de fazer com que um ofício torne-se sacralizado. É a intenção
de resgatar os valores do rito, de aproximar identidades similares apesar de
toda distância cultural. De investigar os limites identitários relativos às
personagens que povoam os ritos dos orixás, ou ainda de fazer com que as
pinturas reforcem a noção de polaridade de uma imagem e redefinam o paradigma
do herói para o mundo atual, que caminha a passos largos em direção ao desfecho
da mecanização do corpo.
Diante de certo descaso pela
tradição dos ritos e da história popular, o uso da pintura como meio de fundir
duas personagens extraídas de HQs e de cultos religiosos com origem africana parece
manter certa resistência aos devaneios patológicos do mundo contemporâneo.
Parece privilegiar uma tomada de posição por salvaguardar o valor reservado ao
limbo. E na zona limítrofe em que essa produção se encontra, sendo ao mesmo
tempo resgate e resistência à religião e cultura popular, esses deuses-heróis equivalem
a espectros icônicos. Ao final, essa coleção fictícia de personagens dá o tom
de parte considerável da condição da vida contemporânea, na qual os mitos
situados na tradição milenar são ofuscados por sistemas mitológicos que operam
no circuito espetacular e mercadológico.
Josué Mattos
[1] Edgar
Wind, A eloquência dos símbolos: Estudo
sobre arte humanista. Edusp;
São Paulo, 1997, pg.82
Super-homem X Oxalá assim como superman é o super-herói supermo, o primeiro a ter a grande mídia a seu favor o colocando no status de homem mais forte do mundo, Oxalá é, dentre os orixas personificado, o mais 'importante', o Supremo! Isto une estas duas personagens.Tamanho 70X100cms, acrílica sobre papel, 'sem título', ano 2010.
CURRICULUM
Yuri Ferraz
Nasceu em Salvador-Bahia em 1972.
Vive e
trabalha em Salvador desde 2000.
ACERVOS
AMBA,
Veneza, Itália
Casa de
Cultura Dide Brandão – Itajaí/SC
Associação
Cultural Brasil Estados-Unidos (ACBEU) – Salvador/BA
Aliança
Francesa – Salvador/BA
PRÊMIOS
2010 –
Itajaí-SC - 12º Salão Nacional de Arte de Itajaí
2002 –
Salvador-BA - Prêmio Braskem de Cultura e Arte
2000 – São
Félix – BA – V Bienal do Recôncavo
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
2012 – “Irúnmolè”
– Galeria ACBEU – Salvador/BA
2009 – “Desiguais”
- Galeria do Conselho – Salvador/BA
2004 – “Yuri
Ferraz” - Galerias de Arte Carlo Barbosa – Feira de Santana/BA
EXPOSIÇÕES COLETIVAS
2020 - "Tarot - Ser Presente", Galeria Paciência - Salvador/BA
2016 - "Em Balaios", Galeria Luiz Fernando Landeiro - Salvador/BA
2014 - "Salões de Artes Visuais da Bahia" - Vitória da Conquista/BA
2013 - "Salões de Artes da Bahia"- Feira de Santana/BA
2013 - "Salões de Artes da Bahia"- Feira de Santana/BA
2012 –
“Circuito das Artes”, Galeria ACBEU - Salvador/BA
“XI Bienal do Recôncavo” - São
Félix/BA
“Salões Regionais de Arte da Bahia” -
Irecê/BA
2011 – “Até
Meio Quilo” – Grupo Aluga-se (SP) - Museu Eugênio Teixeira Leal, Salvador/BA
“Salões Regionais de Arte da
Bahia” - Porto Seguro/BA
2010 – “12º
Salão Nacional de Arte de Itajaí”- “Poéticas Pessoais em Construção” - Itajaí/SC
“Circuito das Artes”, Palacete das
Artes Rodin Bahia – Salvador/BA
2008 –
“Solidariedade – Chico Diabo” – Galeria EBEC – Salvador/BA
“Salões Regionais de Arte da
Bahia” – Alagoinhas/BA
2007 –
“Circuito das Artes” - Galeria do Conselho – Salvador/BA
“Entre Centros” – Galeria ICEIA –
Salvador/BA
2006 –
“Salões Regionais de Arte da Bahia” – Vitória da Conquista/BA
“Futebol é Arte” – Companhia do
Futebol – Salvador/BA
“Galeria Solar Ferrão” –
Salvador/BA
2005 – “Art
for Sale” – Galeria ACBEU – Salvador/BA
“Festival Brasil Noar” –
Barcelona/Espanha
“Fantasma da Fantasia” – Galeria
EBEC – Salvador/BA
“Salões Regionais de Arte da
Bahia” – Feira de Santana/BA
2003 –
“Galeria ACBEU” – Salvador/BA
“Galeria Aliança Francesa” –
Salvador/BA
2002 – “VI
Bienal do Recôncavo” – São Félix/BA
“Ontocartografias” – Teatro Vila
Velha – Salvador/BA
“Galeria ACBEU” – Salvador/BA
2000 – “V
Bienal do Recôncavo” – São Félix/BA
A mitologia dos super-heróis em quadrinhos se funde com
a dos orixás, relacionando suas características comuns e formando uma terceira
entidade.
“Minha pesquisa passa por uma investigação do ser
humano, uma revelação dos seus desejos e de suas crenças. Tenho investigado a
religiosidade e o desejo humano no mundo contemporâneo, desta forma procuro
expressar uma fusão entre o sonho e a realidade, manifestando assim uma face
singular onde corpo e espírito se misturam. Mitos antepassados e contemporâneos
co-habitam o mesmo espaço sem distinção. As características de ambos se
misturam e se manifestam logo em seguida com uma identidade nova. Não imagino o
homem contemporâneo dissociado de sua identidade ancestral, nas raízes da raça
humana está a matriz africana com toda sua força, diversidade cultural e
religiosa, não entendo a força dos cultos africanos como algo ultrapassado, menor,
dispensável, pelo contrário procuro trazer à discussão os valores culturais
ancestrais como algo fundamental para compreender nosso contexto contemporâneo
sincretizado.”
Yuri Ferraz.
Proponho um duplo deslocamento, onde os super-heróis
saem do seu ambiente comum (as revistas em quadrinho) e os orixás da mesma
forma saem de seu ambiente natural (cultos religiosos) e os dois se encontram
num não local que defino como campo de amplidão, neste espaço criado há a fusão
entre os dois e surge uma nova mitologia com características próprias, e
singulares. Os super-heróis ganham uma carga de divindade e os Orixás se
aproximam dos humanos numa referência profana. Nesta nova mitologia, a biologia
e a religiosidade se fundem e estas entidades são tanto físicas quanto etéreas,
não se limitam a realidade humana ordinária e se deslocam entre o plano
material e não-material interagindo entre os dois mundos.
Salvador, 28 de outubro de 2011.
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